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Mostrando postagens de 2017

ESCUTA?

Num mundo onde todos querem falar, saber ouvir é um dom. Paulo Mazarem                                                                         Podemos dizer que escutar o outro é uma atividade que demanda alteridade [1] . Uma vez que a escuta é quase rara em nossos dias, e onde podemos dizer que quase ninguém mais quer ouvir ninguém, por isso, saber ouvir é um dom. Embora, as pessoas desconheçam a filosofia de Descartes, (o que não anula a sua existência, nem seu modus operandi) elas vivem sem saber dominadas por ela.  Sem generalizações, o homem ocidental é um ser que combate outro ser, por considerar um ser que em nada é diferente dele em um não ser. E é exatamente nessa ontologia que sustentamos o C ogito Ergo Sum e abatemos todo modelo que não se encaixe a este paradigma.  Uma vez que o penso, logo existo, oculta um Eu que pensa. Então a questão é quem é este ser pensante, de onde ele fala, como fala, e para quem fala.  Daí, o por que de minha reflexão, por qu

OS DEMÔNIOS VIERAM DA ÁFRICA OU SÃO INDÍGENAS?

Afinal de contas, qual é a lógica ou véu que oculta a demonização alheia? Quais são as influências que recebemos no itinerário histórico brasileiro para a construção de nossa demonologia?   Para problematizar essas questões, vou me deter no movimento pentecostal de 2ª onda de Paul Freston ou também chamado “neopentecoslismo” como denomina, o sociólogo Ricardo Mariano. Para ser mais cirúrgico vou me ater a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) fundada pelo ex-umbandista, Bispo Edir Macedo que conseguiu ver aos 33 anos de idade, isto em 1977 um jeito novo de se viver a fé.  Sabe-se que a IURD é a religião mais sincretizada [1] do Brasil. Isto por que consegue reunir em seu repertório teológico e ritualístico, elementos que residem no judaísmo, catolicismo, no pentecostalismo e no culto afro-brasileiro.  ENTENDENDO A IURD A IURD baseia-se na lógica do sacrífico e na teologia da prosperidade, traduzida pelas trocas simbólicas. Logo, o exorcismo abre espaço para o discurso

MIA COUTO E A POBREZA

Sabe-se que os conceitos não são unívocos e quem ama "palavras", sabe muito bem que elas são elásticas, customizáveis e polissêmicas. O que talvez muitos não saibam é que a palavra "pobreza" encontra-se também entre esses conceitos de significações que ganham para além da recepção hodierna em outras culturas, fora deste circuito hegemônico, ocidentalocêntrico e capitalista, significados que reinventam nossa capacidade de reflexão  De acordo com Mia Couto em algumas línguas de Moçambique que ao total são mais de 27, em algumas delas, sequer existe a palavra pobre.  Pobreza não seria só a falta de bens, mas a solidão. Como o senhor enxerga os discursos sobre a pobreza? Essa lição que a África pode dar é uma lição relativa. O que se está a dizer não é que não haja pobreza. Mas a forma de medir a pobreza não é pela falta de dinheiro só, é pela falta da rede familiar. Portanto, quando se chama   chisiwana , que é a forma para designar um pobre, quer dizer que

PEIXES VOADORES

Quem quer mais do que lhe convém, perde o que quer e o que tem, quem pode nadar e quer voar, tempo virá que não voe e nem nade" . Falando dos peixes Aristóteles diz que só ele entre todos os animais não se domam, nem  domesticam, os peixes lá se vivem nos seus mares, lá se mergulham, lá se escondem nas suas grutas, e não há nenhum que se fie no homem, nem tão pequeno que confie neles, quanto mais longe dos homens tanto melhor. No tempo de Noé, sucedeu o dilúvio que cobriu e alagou  o mundo e todos os animais. E de todos os animais quais se livraram melhor? Os peixes. Todos escaparam, não só escaparam, mas ficaram muito mais largo que dantes, por que  terra e mar, tudo era mar. Mas falemos dos peixes voadores. Que tendo sido criados para nadar, ambicionam o voar. Tenho uma palavra, para vocês peixes voadores.Porém, me respondam, não vos fez Deus para peixes? Por que vos meteis a ser aves? O fato de Deus ter lhes dado maiores barbatanas lhes tornam aves? M

REVELAÇÃO E O SEU PROPÓSITO DE ACORDO COM A(S) TEOLOGIA(S)

- Revelação como Doutrina – A revelação é dotada de autoridade divina, sendo transmitida de maneira objetiva e proporcional pelo meio (palavras) exclusivo da Bíblia. PROPÓSITO: Despertar a fé salvadora por meio da aceitação da verdade revelada de maneira suprema em Jesus Cristo. (Pais da Igreja, Reformadores, Franscis Schaeffer, Concílio Internacional sobre Inerrância Bíblica, etc...) - Revelação como Evento Histórico – Revelação é a demonstração da disposição e capacidade redentora de Deus cfe testificada por seus grandes feitos na história humana. PROPÓSITO: Instilar esperança e confiança no Deus da história. (Willian Temple, Oscar Cullman, etc...) - Revelação como Experiência Interior - Revelação é a auto manifestação de Deus por meio de sua presença íntima nas profundezas do espírito e da psiquê humanos. PROPÓSITO: Propiciar uma experiência de união com Deus que equival à imortalidade. (Friedrich Schleierm

COMO ANDAR NO ESPIRITO?

Um cristão precisa andar no espírito? De fato é uma pergunta interessante por que não dizer retórica. O verbo  grego para andar é peripateo, que significa literalmente “passear” ou “seguir”. Os seguidores do famoso filósofo grego Aristóteles passaram a ser conhecidos como peripatéticos porque eles seguiam Aristóteles em todos os lugares aonde ele ia. É importante destacar que Paulo não está se referindo a uma caminhada ocasional, mas de uma contínua experiência diária. Logo, andar   no espírito é uma escolha que necessitamos realizar diariamente. O segundo verbo é “ser guiado” (v.18) no grego é (ago) que significa submissão a direção que o próprio Espirito Santo dá aqueles que por ele são guiados e dirigidos. Destarte que a nossa tarefa não é liderar, mas seguir o desígnio do Espírito.   Outro verbo que aparece é “viver” (Zao em grego). Com o verbo “viver”, Paulo se referiu à experiência do novo nascimento, que deve marcar a vida de cada cristão. Viver no espirito implica em t

CASAMENTO E AMOR LÍQUIDOS EM TEMPOS PÓS-MODERNOS

"Quando os espíritos não se casam os corpos ficam viúvos". Evaristo Dedíasi.  Sim, como viver num mundo de parcerias frouxas e eminentemente revogáveis?  De fato, o casamento na historiografia ocidental foi/é assunto que provocou muitas reflexões. Mas nos dias de hoje, como o casamento é/tem sido visto? Qual é o lugar do casamento na sociedade? E como ele vem sendo analisado por intelectuais, historiadores e sociólogos. O texto que escrevo aqui pretende analisar as falas do Sociólogo Polonês Zigmund Bauman e da historiadora Mary del Priori. Começaremos com a Drª Mary del Priori. VEJAMOS:  Embora a análise da historiadora seja local, (isto é, da sociedade brasileira do período colonial até o presente momento) suas leituras são fundamentais para pensarmos o tema em outras sociedades. E é aqui que Bauman nos brinda com uma reflexão mais generalizada e holística a respeito do amor, da sexualidade e do casamento.  O sociólogo polonês, fundamenta s

EPICURO E A EUDAIMONIA

A felicidade é uma categoria ética. Marcia Tiburi Felicidade= Realidade menos expectativa. Mário Sérgio Cortella. Afinal o que é felicidade?  De acordo com o dicionário Abbagnano , felicidade implica em um estado de satisfação devido a situação do momento. No entanto, por se tratar de um dicionário de filosofia o autor irá explorar as significações  Em um mundo cercado de publicidades e discursos que associam felicidade e realização à posse e ao desejo de possuir coisas, é difícil imaginar outra forma de ser feliz senão aquela que nos é ofertada no cotidiano nosso de cada dia. É interessante destacar que o documentário questiona esse modelo ou estilo de vida a partir da filosofia de Epicuro - que há milhares de anos já identificara o mesmo comportamento no povo grego. Tratas-se obviamente de um trabalho interdisciplinar que parte da análise do discurso publicitário para estudar mecanismos cognitivos que favorecem o desejo e, por fim, sugere a discussão do c